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  • Carlos Rio

Floresta à noite

Atualizado: 5 de ago. de 2019



Foto de Anocas Moutinho

O evento “Floresta à noite” apesar do nevoeiro mas que acabou por dissipar, e do concerto que decorria próximo, correu muito bem. Muitos e interessados participantes, um jantar fantástico no Chalé Tapas Bar e no final umas clarinhas e uns folhadinhos para repor as energias gastas na pequena caminhada de 2Km aproximadamente.

Fiquei particularmente satisfeito com a participação de algumas crianças. Não foi uma daquelas noites extraordinárias em número de observações mas ainda deu para se verem umas Salamandras-de-pintas-amarelas, Sapos-corredores e Sapos-de-unha-negra, ouvir os Noitibós e o Mocho-galego, ver alguns, poucos infelizmente, Pirilampos, e alguns Morcegos!

Foto de Ricardo Rocio
Foto de Ricardo Rocio

Uma noite que deu sobretudo para mostrar um pedaço de território, na sua maioria dentro do Parque Natural do Litoral Norte, carregado de biodiversidade, de alguns restos ainda fantásticos da velha floresta autóctone, e deu para perceber também que está à beira de ser destruído ou fortemente afectado. Não sei qual a intenção de aos poucos se estarem a transformar caminhos agrícolas, de terra, que em nada afectam os movimentos dos tractores dos agricultores, em estradas. Ou se calhar sei: por um lado criar novas estradas para entrar mais gente para sítios onde a lotação está esgotada com a desculpa que é para escoar trânsito, por outro favorecer um Clube de Futebol que nem da terra é. Sinceramente não me interessa nada o motivo, interessa sim alertar para o que se está a fazer. Enquanto que em alguns sítios, até em Portugal, se estão a criar áreas protegidas, por parte de grupos de cidadãos e/ou autarquias, se estão a criar condições de visitação a espaços naturais com informações sobre a biodiversidade local com a identificação de espécies da fauna e da flora, se criam percursos interpretativos, se incute o prazer de passear na floresta até como forma de preservar e prevenir, aqui estão a rasgar-se estradas e a provocar-se a mortandade de espécies! Como se não bastasse a criação de condições para a circulação automóvel naquele ambiente, ao alargarem os caminhos a terra sobrante não foi retirada criando, desta forma, bermas altas que impedem, conforme ontem vimos, a deslocação de anfíbios nas suas movimentações para procurarem zonas húmidas para se reproduzirem, à semelhança do que aconteceu na Reserva Ornitológica de Mindelo! Ontem vimos alguns anfíbios a tentarem “escalar” as bermas e a não conseguirem! A seguir virão os atropelamentos porque, pela amostra de ontem, trânsito não vai faltar!

Outra questão preocupante, como se não bastasse o veneno que por vezes alguns amantes dos animais daqueles que se preocupam com o repovoamento das espécies espalham pela floresta para acabarem com os predadores que lhes fazem concorrência, ainda assistimos ao desleixo criminoso de alguns agricultores que abandonam por tudo o que é canto as embalagens vazias e com alguns restos de pesticidas e outros venenos, com os resultados que facilmente se adivinham (sim criminoso porque a lei obriga a certos procedimentos)!

Esta coisa de ainda se achar que a preservação do mundo natural é para bichos que não nos interessam para nada, que é coisa de gente maluca e fanática, é do mais parolo e nojento que tenho visto ultimamente. Esta coisa de se achar que só grandes multidões, que só grandes confusões é que são boas para as pessoas da terra, para o negócio, é de uma ignorância, de uma visão míope e tacanha e de uma estupidez, que mete dó!

Esta coisa de pensarem que estas “pequenas” coisas que referi, não têm influência na nossa vida directa, significa que não amam os filhos nem os netos! Porque mais tarde esses irão com toda a certeza pagar bem caro.

Onde andam as organizações de defesa do ambiente, sobretudo as locais?

Resta o consolo de ter visto alguns pais levarem os filhos à actividade, de ver o entusiasmo das crianças a contactarem pela primeira vez com sapos e salamandras, a tocarem, a sentirem e, com os olhos a brilhar, a absorverem os conhecimentos que lhes eram transmitidos e a acreditarem que quando os bichos, mesmo os mais pequenos, e os seus habitats desaparecerem, os seguintes seremos nós.

Foto de Ricardo Rocio

Fiquei com esperança nestas crianças!

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